segunda-feira, 23 de junho de 2008

Papado de Carlos Magno ou reinado de Leão III





[Por Valter Bernardo]


Se podemos afirmar que, apesar das grandes conquistas e avanços do cristianismo como o fim das perseguições (313), a constituição do cristianismo como religião oficial do império romano (392), a conversão dos reis germânicos ( que não quer dizer a conversão de todo o reino), o grande trunfo da perseguição ao paganismo; o maior investimento da Igreja, pressupondo seus objetivos de universalização da religião e de uma

teocracia religiosa, foi a “fusão” com o império carolíngio, ou mesmo antes disso, a aproximação com a família aristocrática franca : os carolíngios. É também lícito dizer que com todo o esforço de unificação militar iniciado com Carlos Martel, vice-rei dos francos e vitorioso em Poitier contra os muçulmanos, e continuado por ser filho Pepino, a grande empreitada carolíngia foi a associação com a Igreja que podemos ilustrar com coroação de Pepino pelo bispo de Roma em 754 e com a doação de Constantino. Daí pra frente até o fim do império carolíngio com o tratado de verdun (843) onde está o papa está o rei, onde está a espada está a cruz. Assim

o movimento carolíngio repousa sobre uma aliança entre o império e a Igreja, que assegura, através de uma troca equilibrada de serviços e apoios, o desenvolvimento conjunto de um e de outro. (Baschet, p.72)

Carlos Magno da continuidade a tentativa de unificação militar de seu pai, (Pepino, o breve), com investidas na Itália, na região dos saxões com extrema violência, na Germânia, na Polônia, Hungria e contra os Pirineus para formar uma zona de proteção contra os muçulmanos ibéricos. “Carlos Magno consegue reunificar uma parte considerável do antigo império do ocidente.” (IDEM, p. 70). As investidas de Carlos Magno que não só eram militares, mas levava a intenção de cristianização dos pagãos e hereges resultou em sua coroação pelo papa Leão III, em 800, e é a este que se deve a maior intenção nessa iniciativa, já que com isso “o papa sinalizava ao franco que este tem sua dignidade a partir da igreja” (IDEM. P.71).
A relação de vassalagem iniciada com Carlos Magno, onde se dividia o território em “pagis”, que eram dados em troca de serviços prestados ao Rei aos condes e nas regiões de fronteira aos duques e marqueses (títulos estes de nobreza também instituídos por Carlos Magno) demonstra que a administração do reino não era fortemente organizada e centralizada. Há também nesse momento um desenvolvimento nas zonas rurais, um aumento demográfico e a retomada do comércio que leva a uma maior organização monetária com a decisão de Carlos Magno em substituir a cunahgem de ouro pela de prata.
Os clérigos são personagens importantes na administração deste reino, onde o imperador é quem nomeia os bispos, abades e dispõe de grande número de igrejas (180) e monastérios (700). Contudo a Igreja se beneficiava nesta situação com proteção, terras, autonomia judiciária e fiscal e com o dízimo tornado obrigatório em 779.
Porém “é no domínio do pensamento do livro e da liturgia que o renascimento carolíngio conhece seus mais duradouros sucessos” (IDEM,p.74) No período carolíngio principalmente com Carlos Magno e seu filho Luís, o piedoso, reúne-se um grande números de intelectuais ao redor da corte. Com o objetivo principal de difundir os textos fundamentais do cristianismo, homens letrados e clérigos promoveram um grande avanço na história das técnicas intelectuais. Entre elas estão a generalização das letras minúsculas, mais elegantes e que tornavam os livros mais manuseáveis e legíveis, o hábito de separar as palavras e as frases uma das outras com o desenvolvimento de um sistema de pontuação, o aumento na produção de livros, a conservação da literatura latina antiga graças ao trabalho dos copistas e, por fim, a reforma litúrgica que unificou os ritos religiosos , não os deixando “à mercê da diversidade dos costumes locais” (IDEM.p.76). As artes também inovam. A arquitetura acompanha a liturgia, ambas cada vez mais bem elaboradas, imponentes e poderosas. As imagens de santos repletas de detalhes e a multiplicação no domínio literário também ajudam a ilustrar esse momento de grande produção cultural e intelectual.
A unificação carolíngia, apesar de pequena (+ou-751-843) deixou marcas duradouras. Contudo com a regionalização do poder, a formação dos feudos e a pulverização do império pelo pacto de Verdum (843) essa unificação não foi mais possível dando origem ao germe dos Estados independentes.

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