sexta-feira, 25 de abril de 2008

Êta “povinho” que sofre


[por Valter Bernardo]

A primeira vez que ouvi falar de Dubai, na verdade não só ouvi, mas assisti uma reportagem sobre as maravilhas da cidadela dos Emirados Árabes, fiquei estagnado, não podia acreditar no que os meus olhos contemplavam. Hotéis de trinta andares com colunas de até cento e cinqüenta toneladas de ouro, pista artificial de neve para a prática de esqui coberta por uma bolha, shoppings mais resplandecentes que os cassinos de Las Vegas, praias, ilhas artificiais em forma de palmeira put’s parecia mentira holywoodiana. Mas o que mais me impressionou além das maravilhas arquitetônicas foi as condições de vida das pessoas que moravam lá (que apareceram na reportagem, é claro). Alguns médicos, engenheiros brasileiros com salários de 100 a 160 mil dirhams (cerca de 50, 80 mil reais), já que a renda média por habitante ultrapassa os US$ 40.000 (cerca de R$ 73.100), pensei existir o lugar da “utopia comunista”, o “país (cidade) das maravilhas”. Que trouxa (opa!), que pena, estava enganado.

Agora me sinto envergonhado de ter pensado assim e ter sido mais uma vítima iludida da mídia televisiva. Só pude enxergar a outra face da moeda após a publicação de uma matéria no jornal francês Le Monde (01/2008) sobre os direitos trabalhistas no Golfo. Há cinco meses uma rebelião tomou conta de Sonapur, um bairro distante do centro de Dubai, onde mora uma grande quantidade de trabalhadores. Milhares de operários da companhia de construção civil Arabtec, vindos de varias regiões (Paquistão, Índia...) entraram em greve e reivindicavam um aumento no salário de 400 dirhams (+ou – R$200) para 900 dirhams (+ou- R$450), pediam também passagens duas vezes ao ano para visitarem a família e o reembolso dos medicamentos. Os grevistas naquele dia foram embora cheios de esperança e nem se importaram em dormir com mais cinco ou seis pessoas num quarto de aproximadamente 7 m2 como acontece na maioria das casas em Sonapur, por uns dias nem sentiam mais o cheiro de esgoto que tomava conta da água que bebiam, não mais reclamaram de almoçarem nas cozinhas improvisadas em meio às construções. Contudo, segundo Claire Gatinois do jornal Le Monde “o caso foi abafado, mas não solucionado”, (Que surpresa!).

Depois de dois meses os proletários receberam 100 dirhams (cerca de R$50) a mais para a alimentação. Que alegria! Os operários poderão comprar uma marmita nova, tomar um copo de leite no café da manhã, um quibe a mais no almoço e quem sabe se economizarem poderão comemorar o aniversario com bolinho e suco na companhia dos amigos.

A tentativa não fracassou totalmente. Para os Emirados que buscam atrair os turistas ocidentais a repercussão do fato na mídia internacional não caiu muito bem. Com isso os representantes do Emirado Árabes Unidos, do Bahreim, Qatar e Kuait resolveram se reunir com os países asiáticos que “fornecem” 80% dos trabalhadores, para discutirem sobre os direitos trabalhistas.

Os PS’s (proletários e simpatizantes) esperam (vício esquerdista) que os resultados dessa cúpula inédita sejam significantes e que Alá ouça a voz do doutor Walee Al-Alawi – ministério do trabalho no Bahreim – “[...] é preciso encontrar meios de proteger esses trabalhadores”.

Voltando os olhos para nossa terra de “palmeiras onde canta o sabiá” vemos que a coisa aqui também anda feia. De acordo com o IBGE o trabalhador brasileiro está ganhando menos que em 2002, apesar de o número de pessoas no mercado de trabalho ter aumentado. Em 2002 entre março e dezembro o rendimento médio foi de R$1205,39 e em 2007 no mesmo período, 5% abaixo, R$1145,08. Mas espere aí; um país auto-suficiente em petróleo, com um aumento considerável de exportações (principalmente grãos) nos últimos cinco anos, mais pessoas trabalhando, maior produção, um salário que aumenta, mas ainda estamos ganhando menos que há cinco anos atrás? A mais-valia continua longe dos bolsos dos proletários. E outra coisa, se a renda media é de R$1145, alguém está com a minha outra metade.

Diante desses fatos vale a pena comentar o que o senhor da Microsoft, o primeiro, segundo, ou terceiro (não importa) homem mais rico do mundo, Sr. Bill Gates, disse em reunião no Fórum Econômico Mundial em Davos, Suíça. Ele pediu aos líderes econômicos e empresariais que incentivassem “uma nova aproximação ao capitalismo criativo no século XXI[...] para impulsionar a inovação tecnológica e reduzir as desigualdades”, mas não foi incrível criatividade desse sistema que criou o maior fosso de desigualdade entre os homens? E não foi graças a sua dinâmica que se formou o sistema de competição mais desigual, injusto e desumano que o homem já conheceu? Terá de ser mesmo muito criativo para “descriar” que ele próprio criou.

Planeta Febril

[por Amilton Augusto]

A Terra está em alerta! Salve-se quem puder - ou melhor, nos salvemos em união. Foi acionado o botão vermelho e tocada a sirene de aviso: temos menos de cinqûenta anos para reduzir pela metade a emissão de gás carbono céu acima. Se isso não acontecer, nós, Homo sapiens (sapientes ou não) e toda a biodiversidade estará fadada a morrer engolindo "sacos de fumaça", feitos em entrega delivery nos nossos cômodos domicílios, ou quem sabe, faremos, todos, parte um cozido humano, preparado pelas ações inversas de nossos modernos ares-condicionados.

Acomodados com as facilidades trazidas pela tecnologia, esquecemos quase sempre, que o planeta está doente, está febril. Os dinossauros foram alvos de extinção há milhares de anos, mas agora, o alvo é uma espécie chamada Homem. É comum vermos na televisão, propagandas emotivas de ongs. Essas chamadas martelam e ecoam em nossas mentes, e nos fazem refletir (às vezes não) sobre o nosso futuro, e infelizmente desaparecem feito mágica quando o próximo bloco da novela ou do filme hollywoodiano recomeçam. Filmes e novelas estes que consomem toneladas e toneladas de materias, que ao fim da produção se tornarão quase todos lixo, mero lixo, contribuindo para que sejamos traídos pela nossa própria hipocrisia.

As soluções? Ora! Essas são várias: trocar o carro pelo transporte coletivo ou pela bicicleta; não jogar lixo na rua; fazer coleta seletiva; não queimar; não desmatar; plantar árvores; tratar o esgoto da cidade; consumir menos; optar por produtos biodegradáveis e com menos embalagens... São todas soluções primárias e estão ao alcance de todos. Mas, quando estas soluções ameaçam o conforto individual, surgem então as célebres frases: "que se dane a sustentabilidade", "quando o mundo acabar, não estarei mais aqui", "sozinho não posso fazer nada", e a displicência humana põe em cena a sua condenação.

São Paulo tem expectativa de vida menor em relação a outras regiões do Brasil em 1,5 anos devido á poluição. Um ser humano consome em média 3,5 quilos de lixo por dia, o mundo aquece cada ano mais e o caos se estampa pouco a pouco (ou talvez depressa demais). Qual será nosso fim? Quanto tempo demorará para chegarmos ao fim? Quando vamos realmente nos conscientizar do tamanho do problema? Não é utopia achar que se esta atitude começar de você, de mim, ou do seu vizinho o mundo estará menos febril, menos enfermo. Levante, pense, comece!