quinta-feira, 15 de maio de 2008

Apelo de uma geração desiludida

[por Amilton Augusto]

Maio de 1968! Revoluções estavam por acontecer! As massas efervescentes em vários cantos do mundo estavam em ebulição, lutavam pela liberdade. Na verdade, não existia uma unidade na luta ideária, cada qual queria um objetivo diferente, mas o fato era - liberdade a qualquer preço. Uma revolução para os românticos, uma baderna para os conservadores. Maio de 68 pode ser pautado de maneiras diferentes, depende apenas do ponto de perspectiva.

Brasil, México, França, Estados Unidos, Tchecoslováquia, Polônia... Em cada uma destas partes, a juventude e os operários lutavam contra as ditaduras, contra o modo de vida patriarcal, contra o racismo, pelo fim da Guerra do Vietnã... No Brasil, em particular, a geração de 1968 saía às ruas das grandes cidades em protesto, contra um regime autoritário e ditatorial: os artistas faziam suas manifestações nas peças teatrais, no cinema, na música (graças a essa geração artística herdamos boas obras musicais). Um ar de esperança pairava sobre as pessoas com sede de mudança, de liberdade, de romantismo.

Quarenta anos se passaram e muito nos ficou da década de sessenta: liberdade sexual, diminuição de preconceitos raciais, fim de várias ditaduras, melhor igualdade entre homem e mulher, a arte peculiar desta época, a organização estudantil, etc. É quase impossível medir os pontos positivos e negativos - como já disse, vai depender do ponto de vista. Chico Buarque, em sua música Tanto Mar, elogia a Revolução dos Cravos e, por outro lado, critica, porque o fogo da revolta portuguesa não durou depois da queda da ditadura salazarista. Peço licença ao grande Chico, pois, da mesma maneira que o mundo ferveu rápida e esperançosamente em 1968, ele esfriou e até hoje sentimos o frio cortante da falta de vontade do povo.

Entre todas as heranças possíveis, nós brasileiros, deixamos de herdar algo de fundamental importância: a garra, a luta, a coragem de dizer não à opressão... A geração que pegou em armas na década de 60 e 70 no Brasil envelheceu, se tornou burguesa (nem todos) e pouco aprendemos com eles. Hoje nos sentimos mais à vontade dentro de nossas casas, de meias de lã e barriga cheia, outros sem meia e de barriga vazia, mas em comum têm a falta de vontade. Se um dos objetivos da história é aprender com o passado, a lição está dada, o problema é que muitos “tomaram bomba” na disciplina “Revoluções de 1968”.